7. Abraão e a Promessa
Levando-o para fora da tenda, disse-lhe: "Olhe para o céu e conte as estrelas, se é que pode contá-las". E prosseguiu: "Assim será a sua descendência". Gênesis 15:5
Como dito no texto sobre o episódio da Torre de Babel, é possível vislumbrar ali o momento onde a humanidade inteira, novamente, se rebela contra Deus e se afasta Dele. Em outras palavras, a era atual (pós-diluviana) se inicia com os homens se afastando do Criador. Deus, em resposta a isso, dividiu o povo de então em diversos povos diferentes, criando línguas distintas para cada grupo e dando territórios distintos para cada um. Isso tudo foi relatado nos capítulos 10 e 11 de Gênesis. Comentou-se também que, embora o texto não o diga de forma explícita, pode-se rastrear a origem das falsas religiões e falsos deuses ao evento de Babel, cuja torre provavelmente já era uma estrutura religiosa - como a arqueologia da região tem sugerido.
Já no relato seguinte, em Gn 12, vemos Deus agora tratando com um dos descendentes de Babel, da descendência de Sem: Abrão. Isso mesmo, Abrão e não Abraão. A Bíblia não explica porque este indivíduo foi escolhido, mas aquilo que o Criador prometeu a Abrão pode ser considerado como a promessa mais importante de toda a Escritura. Dois milênios depois de Abrão, o judeu Paulo iria se referir às coisas que Deus prometeu àquele homem utilizando apenas a palavra Promessa (Gl 4:28; Ef 3:6) e as relacionando com a sua mensagem sobre Jesus.
Os capítulos 12, 15, 17 e 22 apresentam a Promessa divina dada a Abrão. Mas antes de analisar o que foi prometido, é importante entender o modo como Abrão respondeu ao que Deus falou para ele inicialmente: “Então o Senhor disse a Abrão: ‘Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei. Farei de você um grande povo, e o abençoarei. (...); e por meio de você todos os povos da terra serão abençoados’. Partiu Abrão, como lhe ordenara o Senhor (...)” (Gn 12:1-4). Nesta primeira promessa de Deus a Abrão, existe também uma ordem divina para este indivíduo: sair de sua terra, deixar sua família e ir para um lugar que ele só saberia depois onde era ('eu lhe mostrarei' e não 'eu te mostrei'). Mesmo sem saber pra onde, o texto diz que Abrão partiu como o Senhor tinha ordenado. Em outras palavras, Abrão teve fé em Deus, pois ele acreditou no que o Criador disse e o reconheceu como Senhor – pois Abrão ouviu e obedeceu a Deus. A fé verdadeira em Deus sempre produz obediência no homem, mesmo que não se saiba para onde vai nem porque deve fazer determinada coisa que o Senhor ordenou.
Uma vez que Abrão obedeceu a Deus (teve fé – Gn 12:4; 22:18), a Promessa foi então realizada. Na verdade, essa 'Promessa' é composta por diversas promessas, é um 'combo' divino de promessas:
Deus faria de Abrão um grande povo (Gn 12:2);
Deus abençoaria Abrão e tornaria-o conhecido (Gn 12:2);
Deus faria de Abraão uma bênção (Gn 12:2);
Deus protegeria Abrão, retribuindo aos outros homens segundo o que fizessem com ele (abençoarei os que lhe abençoarem, amaldiçoarei os que lhe amaldiçoarem) (Gn 12:3);
Através de Abrão (sua semente/descendência) todos os povos seriam abençoados (Gn 12:3; 22:18);
Des tornaria Abrão pai de todos os povos da terra (Gn 17:4-5);
Deus daria a terra de Canaã à descendência de Abrão (Gn 12:7; 15:18-21);
Deus daria a Abrão uma descendência numerosa (Gn 15:5);
Da descendência de Abrão Deus levantaria nações e reis (Gn 17:6).
São vários os assuntos que se desdobram desta lista de promessas. Neste artigo, porém, serão comentados apenas os pontos centrais do que Deus prometeu a Abraão (novo nome que Abrão recebe de Deus, simbolizando a promessa de que ele se tornaria pai de todas as nações do mundo). Das diversas promessas da Promessa – que também é conhecida como Aliança Abraâmica – duas delas são fundamentais para se compreender as ações de Deus ao longo de toda a história da humanidade, a saber:
Uma nação viria da descendência de Abraão e habitaria em uma determinada terra que Deus separaria para ela;
Abraão foi estabelecido pelo Criador como ‘pai das nações’, tornando-as, portanto, herdeiras de Abraão e da promessa de serem abençoadas por meio da semente (descendência/descendente) de Abraão.
Em outras palavras, para se compreender corretamente todo o restante das Escrituras, incluindo os eventos que ainda não ocorreram e estão profetizados ao longo da Bíblia, é fundamental que estes dois aspectos não sejam perdidos de vista, pois eles estão por trás, de certo modo, de todas as ações do Criador. Deus prometeu algo e, como Ele tem palavra, Ele irá cumprir a Sua Promessa, garantida pelo pacto que fez com Abraão (a Aliança Abraâmica).
Dos dois pontos destacados da Promessa, o primeiro se refere à criação da nação de Israel e à terra de Canaã, também conhecida como a Terra Prometida (hoje a região da Palestina). Vários aspectos da revelação divina se relacionam com este povo, incluindo ações de Deus no passado, no presente e no futuro. Para este artigo, importa compreender que é por meio da nação de Israel que as demais alianças de Deus, o Templo, a Lei de Deus, os profetas e o Filho de Deus (Jesus) seriam dados ao mundo.
O segundo ponto mostra que, embora o Criador tenha separado a nação de Israel para cumprir determinadas coisas em Seu Plano Redentor, Ele fez tudo tendo em mente abençoar (salvar, resgatar, redimir) todos os povos originados em Babel, ou seja, toda a humanidade. Para mostrar isso, Deus mudou o nome de Abrão para Abraão, conectando-o não apenas com sua descendência natural, mas também com os gentios (todos os outros povos). Ao longo das Escrituras, esses dois grupos também passaram a ser denominados como circuncisão (israelitas) e incircuncisão (gentios, não-israelitas). Na verdade, este ponto está relacionado ao primeiro, pois é justamente através de Abraão e sua descendência (Israel) que todos os povos receberiam a bênção divina prometida aqui (embora o texto ainda não especifique do que se trataria essa bênção). Ao longo do restante das Escrituras, especialmente no Novo Testamento, o conteúdo desta bênção passa a ser cada vez mais revelado.
Deste modo percebe-se que não é em vão que a história de Abrão segue a da Torre de Babel: em Babel os homens viram as costas para Deus e o Criador os divide em nações e os espalha por todo o planeta. Em Abrão, Deus promete para estas mesmas nações, por meio da descendência deste homem, algo que o texto de Gênesis simplesmente chama de ‘bênção’. Mesmo sem ter detalhes, pode-se dizer que Deus não abandonou os povos nem desistiu de traze-los de volta para a Luz.
Concluindo, este artigo objetiva mostrar que, para além da Aliança Noética, feita com todo ser vivo terrestre após o Dilúvio, o Criador toma a iniciativa e se prende a outra Aliança, desta vez com um homem e sua descendência, declarando Seu desejo de abençoar todos os povos que Ele criou, mesmo após novamente a humanidade ter se rebelado conjuntamente contra seu Criador. Vemos aqui um Pastor que, desde os primórdios da civilização humana, sai em busca de Suas ovelhas perdidas em todos os cantos do mundo que Ele criou.