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12. A vinda do Descendente

Entre o Antigo e o Novo Testamentos, há cerca de 400 anos de intervalo. Tradicionalmente, considera-se que o livro do profeta Malaquias tenha sido o último das Escrituras anteriores a Jesus Cristo. Já o primeiro texto escrito da era cristã pode ter sido tanto a Carta de Paulo aos Gálatas quanto a Carta de Tiago, ambas consideradas como escritas ao longo da década de 50 do primeiro século após Cristo, mas com incerteza quanto ao ano exato da composição de ambos estes documentos.

É importante lembrar que as Escrituras chamadas de Novo Testamento só são consideradas como inspiradas (canônicas) pelos cristãos. O Judaísmo predominante não considera Jesus como o Messias aguardado e o Islã considera que ambos os testamentos foram originalmente inspirados, mas posteriormente adulterados. Em poucas palavras, o debate entre estas três religiões abraâmicas gira em torno de se acreditar (e comprovar) que a vida e o ensino de Jesus, conforme descritos no Novo Testamento, confirmam ou não se ele é o Messias profetizado pelas Escrituras anteriores: o Antigo Testamento. Em outras palavras, se Jesus é o Cristo, o Islã e o Alcorão são falsos, pois negam, dentre outras coias, que Jesus é o Filho de Deus e o Salvador do mundo. Ainda, se o Novo Testamento é verdadeiro, a corrente predominante do judaísmo também é errada, pois estaria interpretando equivocadamente os textos do Antigo Testamento e, o que é mais grave, rejeitando a única salvação que Deus lhes prometeu, o Cristo.

Até aqui, a leitura dos textos 1 a 11 pode ser resumida assim:

 

  1. O povo de Israel recebeu do Criador a verdadeira revelação para todos os povos e foi responsável por guardar e transmitir as Escrituras ao mundo;

  2. Existe um único Deus, que criou todas as coisas – e as criou ‘boas, perfeitas’;

  3. O primeiro casal humano criado se rebelou contra o Criador, dando ouvidos a um outro ser que já havia se rebelado – Satanás, a Serpente – e, como consequência, a criação inteira foi corrompida (surgiram doenças, dor, mal, morte, terremotos etc);

  4. Após o Dilúvio e a rebelião em Babel, Deus dividiu a humanidade em diversos povos, chamados de gentios na Bíblia (nações, raças, povos, etnias etc);

  5. De um destes povos, o Criador escolheu um homem (Abraão) e prometeu que por meio dele e de sua descendência todos os povos seriam abençoados por Deus;

  6. De Isaque e Jacó, descendentes de Abraão, o Criador criou um povo separado para cumprir sua promessa de abençoar todos os povos – o povo de Israel;

  7. Ao longo da história, Deus repete suas promessas abraâmicas, mas desta vez as relacionando com um descendente do rei Davi, que iria governar todos os povos, estabelecer Israel na terra prometida e trazer a bênção que Deus avisou que traria por meio de Abraão e sua descendência – este filho de Davi passou a ser chamado, dentre outros nomes, de Messias (ou Ungido, ou Cristo, ou Filho do Homem);

  8. O Antigo Testamento termina mostrando que a nação de Israel em geral não viveu em conformidade com a Lei de Deus, dada através do profeta Moisés. Por isso, esta nação usufruiu muito pouco do que o Criador havia prometido a ela e, em um dado momento, a dinastia do rei Davi não mais ocupou o trono de Israel – desde o domínio babilônico até os dias atuais;

  9. As promessas abraâmicas (para Israel e para os gentios) foram vinculadas ao reinado de um descendente especial de Davi, que seria chamado de 'maravilhoso conselheiro' e 'Deus forte', que viria e governaria com paz, justiça e bênção para todos os povos;

  10. Enquanto este indivíduo (o Cristo) não começar a reinar, a Promessa Divina não será plenamente cumprida. No período intertestamentário, a tradição judaica passou a denominar o período que antecede a vinda do Messias de ‘esta era/este século/este mundo’ e o período do Reino Messiânico como ‘era vindoura/século vindouro/mundo vindouro’ (as expressões variam conforme a tradução da bíblia utilizada).

 

Eram estas as promessas que os judeus (os israelitas do Reino de Judá) aguardavam por cumprimento durante o período em que o Novo Testamento foi escrito. Mesmo vivendo na terra prometida, os judeus estavam submetidos ao Império Romano, continuavam sem um filho de Davi reinando sobre eles e, acima de tudo, sem O Filho de Davi (o Messias). Os judeus aguardavam, naquele momento, a vinda do Cristo que, de acordo com os profetas, removeria a opressão dos israelitas, restauraria as 12 tribos de Israel à sua terra e governaria todos os povos com os atributos do próprio Deus: justiça, bondade, amor, paz, alegria, santidade, prosperidade etc. Se você fosse judeu e vivesse naquele tempo, era isso que ouviria desde pequenino nas sinagogas e nas ruas. E provavelmente seria isso que você ansiaria ver.

Então, certo dia, um mensageiro divino (anjo) apareceu a uma moça de nome Maria (ou Miriam, no hebraico) e disse a ela o seguinte:

 

“ ‘Alegre-se, agraciada! O Senhor está com você!’ Maria ficou perturbada com essas palavras, pensando no que poderia significar esta saudação. Mas o anjo lhe disse: ‘Não tenha medo, Maria; você foi agraciada por Deus! Você ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi, e ele reinará para sempre sobre o povo de Jacó; seu Reino jamais terá fim’. Perguntou Maria ao anjo: ‘Como acontecerá isso, se sou virgem?’ O anjo respondeu: ‘O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com a sua sombra. Assim, aquele que há de nascer será chamado santo, Filho de Deus’" (Lc 1:28-35)

 

Deste modo, como era de se esperar, o anjo fala exatamente o que o Antigo Testamento já havia ensinado e os judeus aguardavam com ansiedade:

 

  1. Maria, uma descendente de Davi, iria engravidar e o seu filho seria justamente o Messias, cujo Reino não terá fim;

  2. Maria era virgem, mas o anjo disse que o nascimento do Messias seria miraculoso e, por isso, aquele homem que nasceria seria santo, Filho de Deus, gerado pelo Espírito Santo;  

    1. É importante perceber que o anjo explica que Jesus foi considerado Filho de Deus por ter nascido do Espírito Santo e não por Maria ser virgem (“Assim, aquele que nascer será chamado santo, Filho de Deus...”).


Cerca de 6 meses antes de Jesus nascer, um outro menino havia nascido, primo de Jesus: João. Este João, que posteriormente receberia o ‘apelido’ de batista (batizador), havia sido escolhido por Deus para aparecer antes de Jesus e trazer os israelitas de volta a Deus, ficando prontos para receber o Messias. Quando João Batista nasceu, seu pai, de nome Zacarias, falou algo que também confirma o que os profetas já haviam dito:

 

“Seu pai, Zacarias, foi cheio do Espírito Santo e profetizou: ‘Louvado seja o Senhor, o Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo. Ele promoveu poderosa salvação para nós, na linhagem do seu servo Davi, (como falara pelos seus santos profetas, na antiguidade), salvando-nos dos nossos inimigos e da mão de todos os que nos odeiam, para mostrar sua misericórdia aos nossos antepassados e lembrar sua santa aliança, o juramento que fez ao nosso pai Abraão: resgatar-nos da mão dos nossos inimigos para servi-lo sem medo, em santidade e justiça, diante dele todos os nossos dias’. (Lc 1:67-75)

 

Zacarias aqui profetizou, ou seja, falou sob inspiração do Espírito de Deus: assim, o que ele disse é verdade, segundo a Bíblia. É fácil perceber que ele falou o mesmo que o anjo Gabriel disse a Maria anteriormente, confirmando que Deus salvaria Israel de seus inimigos por meio de um filho de Davi, relacionando isso com a Promessa dada a Abraão, chamada aqui de Santa Aliança. Sob o reinado do Cristo, Israel teria sua prometida paz em sua terra, assim como seria uma nação santa e justa aos olhos de Deus. Embora Zacarias não tenha mencionado, a Aliança Abraâmica também diz que a bênção não viria apenas para Israel, mas que todos os povos seriam abençoados por meio da descendência de Israel, por meio deste filho de Davi, gerado pelo Espírito Santo no ventre de Maria.

Um outro verso, desta vez do evangelho de Mateus, confirma isso de outro modo. Seu primeiro verso (que é o primeiro do Novo Testamento, segundo a ordem de organização dos livros) diz simplesmente o seguinte: “Registro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão” (Mt 1:1). Esta informação aparentemente desnecessária é talvez a mais importante do Novo Testamento: Jesus Cristo (Messias, Ungido) é descendente de Abraão e descendente de Davi. Ou melhor, ele é O filho de Abraão e O filho de Davi. Como vimos no texto 3, o Criador prometeu que um dia um filho de Eva pisaria a cabeça da Serpente (derrotaria o Adversário da humanidade) – ou seja, desde o início da Bíblia a vinda do Cristo e seu papel em derrotar Satanás já eram preditos por Deus. Quanto ao filho de Eva, o Novo Testamento afirma o seguinte sobre Jesus:

 

“Aquele que pratica o pecado é do diabo, porque o diabo vem pecando desde o princípio. Para isso o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do diabo” (1Jo 3:8).

 

“Portanto, visto que os filhos são pessoas de carne e sangue, ele também participou dessa condição humana, para que, por sua morte, derrotasse aquele que tem o poder da morte, isto é, o diabo” (Hb 2:14).

 

              Na primeira passagem, João disse que o Filho de Deus (Jesus) se manifestou para destruir as obras do diabo (a Serpente). Já na carta aos Hebreus, está escrito que ele (Jesus) morreu como homem para derrotar a Serpente. Não está claro então que o Novo Testamento afirma que Jesus é o descendente que viria de Eva e que pisaria a Serpente? Como visto no texto 3, entre os resultados dos homens seguirem a Serpente está a morte: o Criador disse que o homem voltaria ao pó, de onde havia sido tirado. Mas, sobre Jesus, Paulo afirma o seguinte:

 

“Pois é necessário que ele [Jesus] reine até que todos os seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte” (1Co 15:25-26)

 

              Nesta passagem Paulo confirma que Jesus é um rei. Assim, Paulo explica que o Rei prometido no Antigo Testamento não só traria paz e justiça aos homens, mas devolveria também a vida eterna, destruindo a morte, que foi introduzida na Criação através do pecado de Adão e Eva (ver próximo post, o texto 13): “E esta é a promessa que ele nos fez: a vida eterna” (1 Jo 2:25).

Não apenas isso, mas os 4 evangelhos, onde é retratada a vida de Jesus segundo a ótica de 4 de seus discípulos (Mateus e João, dois de seus apóstolos, e Lucas e Marcos), mostram diversos outros sinais que cumpriam as profecias sobre o Messias, como a promessa de que o Cristo teria poder para curar doentes e libertar pessoas de espíritos malignos (Lc 4:14-21) ou que esse rei prometido seria rejeitado por seu próprio povo e recebido pelos gentios (Is 65:1-2), ou ainda que Ele se revelaria nas terras de Zebulom e Naftali (a Galileia) e que nasceria de uma virgem (ambas profecias estão em Is 9:1-7).

              Por isso, a grande mensagem do Novo Testamento é que Jesus é o Cristo (o Messias, o Ungido): ele é o filho de Davi prometido, o filho de Abraão prometido e o filho de Eva prometido, que traria a bênção divina prometida por Deus e descrita por todos os profetas do Antigo Testamento: a remissão/restauração de toda a criação de Deus, dos céus, da terra e de tudo o que neles há, incluindo o ser humano, que receberá deste Rei novamente a possibilidade da vida eterna!



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