1. O que é a Bíblia?
O mundo ocidental já se acostumou com a Bíblia. Na verdade, podemos dizer que em muitos aspectos ele foi moldado por ela. Mas, atualmente poucas pessoas conhecem realmente este livro tão importante para a civilização: sua ética, seus conflitos, sua ciência, seus idiomas, suas crenças foram e continuam sendo profundamente permeados pelas ideias e histórias contidas neste livro.
Este breve artigo tem como objetivo apresentar um sucinto panorama sobre a Bíblia. Antes de tudo, é necessário primeiro saber que este livro, na verdade, é uma coletânea de livros - escritos e reunidos por um determinado povo que alega ter sido escolhido pelo Criador de todas as coisas para registrar e propagar a Sua Palavra aos demais povos do planeta: o povo de Israel. Em outras palavras, quando alguém acredita que a Bíblia é a Palavra de Deus, ele está afirmando que os demais livros considerados sagrados e que foram escritos por outros povos não são a verdadeira revelação de Deus, mesmo que contenham pontos em comum com a Bíblia.
Quando se diz que a Bíblia é a revelação apresentada por Israel aos demais povos, não se está exagerando: praticamente todos os seus autores foram israelitas/judeus, com a exceção do médico Lucas, que escreveu o Evangelho de Lucas e o livro de Atos e de alguns livros cuja autoria é desconhecida, como no caso do livro de Jó. Ao contrário do senso comum, não é apenas o Antigo Testamento que foi escrito pelo povo israelita, mas também os escritos dos seguidores de Jesus (Novo Testamento) vieram desse mesmo grupo: os apóstolos de Cristo eram todos judeus, assim como a maioria dos primeiros cristãos.
O que é chamado de Bíblia varia segundo a tradição religiosa que se considera. De modo simplificado, podemos reconhecer três principais coletâneas das escrituras: A Tanakh, a Bíblia Protestante e a Bíblia Católica. A Tanakh corresponde ao Antigo Testamento Protestante e são os únicos livros considerados sagrados para as principais ramificações do Judaísmo. Já para os cristãos, os livros escritos pelos primeiros seguidores de Cristo, no 1º século, são também considerados sagrados, compondo o que a tradição cristã denominou de Novo Testamento. A diferença entre o cânon (conjunto de livros sagrados) protestante e católico está no Antigo Testamento apenas, que possui alguns livros a mais na Bíblia Católica (veja no gráfico abaixo maiores detalhes sobre os três cânons).
A Bíblia Protestante (que é a referência deste blog) possui 66 livros. Estes livros foram escritos por cerca de 40 autores em um intervalo de aproximadamente 1600 anos! Muitos afirmam que o fato de tais livros apresentarem coerência entre si é uma das grandes provas da inspiração da Bíblia. Seus textos foram escritos em três línguas: hebraico, aramaico e grego.
A tradição cristã organizou o seu cânon em dois grandes blocos: os livros escritos antes do nascimento de Jesus (Antigo Testamento) e os que foram escritos por seus discípulos (Novo Testamento). É importante compreender que essa divisão não existe nos textos bíblicos, mas foi desenvolvida posteriormente ao longo da história do cristianismo. Além disso, houve uma outra importante organização dos textos sagrados, que é a sua divisão em capítulos e versículos – originalmente os textos foram escritos sem tais divisões. Estas divisões, que ajudam bastante o estudo da Bíblia, podem às vezes dificultar a percepção da totalidade de uma dada passagem bíblica e levar a compreensões descontextualizadas de passagens bíblicas - esta talvez seja a maior fonte de erros na interpretação das Escrituras.
Quanto ao conteúdo da Bíblia, o Antigo Testamento narra desde a criação do universo, passando pela revolta dos primeiros homens e aos poucos vai focalizando a sua narrativa na pessoa de Abraão e em seus descendentes escolhidos por Deus – a nação de Israel. O registro canônico desta parte das Escrituras termina logo após o retorno dos israelitas do cativeiro que passaram na Babilônia (século V a.C.).
Após aproximadamente 500 anos do evento do retorno dos israelitas da Babilônia, surgiram os relatos contidos no Novo Testamento - que continuam retratando a história do povo escolhido, mas agora com o foco em seu mais ilustre indivíduo: Jesus, o Messias prometido desde o Antigo Testamento. Nesta parte, temos livros cobrindo o período que vai do nascimento de Jesus até o fim da atividade de Paulo, o apóstolo.
Vale ainda destacar que, além dos relatos históricos, existem no Antigo Testamento livros poéticos (como a coletânea de canções chamada de Salmos), livros de sabedoria e proféticos. Já no Novo Testamento, os livros históricos são acompanhados por cartas doutrinárias escritas às diversas igrejas da época e a alguns indivíduos, além do livro de Apocalipse, de conteúdo predominantemente profético, embora seja também uma carta.
Em suma, como responder à pergunta ‘O que é a Bíblia?’. Segundo o ponto de vista deste artigo, uma boa resposta deveria dizer que a Bíblia na verdade é uma coletânea de livros, escritos e compilados por diversos homens ao longo da história, cujo conteúdo foi inspirado por Deus e entregue a todos os povos a partir do povo de Israel. Em especial, toda a Escritura Sagrada, do primeiro livro (Gênesis) até o último (Apocalipse) fala, acima de tudo, de Jesus, a maior revelação de Deus à humanidade, sendo Ele (o Cristo), o próprio Deus.
Notas explicativas:
* O termo Deuterocanônico é utilizado pela teologia católica romana para se referir aos livros considerados canônicos por ela e que não estão na Bíblia Protestante nem na Tanakh. As igrejas Ortodoxa, Copta, Siríaca, Grega e Russa também os consideram inspirados. Mesmo que o judaísmo em geral e o protestantismo não os consideram inspirados, eles consideram tais livros como parte genuína e relevante da tradição escrita da fé judaico-cristã.
** A palavra Tanakh é, na verdade, um acrônimo de três palavras em hebraico (TaNaKh):
T – Torah: Lei (os 5 livros de Moisés) N – Neviim: profetas (8 livros) K – ketuvim: escritos (11 livros)
Como já dito, corresponde ao Antigo Testamento Protestante, mas com os livros organizados de modo diferente – sem mudança no conteúdo.
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