Alimento para a alma
O pão é um alimento milenar, e está presente em diferentes culturas. Em determinadas regiões orientais e europeias, o pão continua sendo amplamente consumido como um alimento básico, à semelhança do que o “arroz e feijão” representa nas mesas brasileiras. No entanto, tanto no Ocidente quanto no Oriente, em famílias pobres ou ricas, sob a forma de torrada, pão francês ou sanduíche, o pão tem feito parte de nosso cotidiano.
Para além de sua relevância nutricional, há também um significado social e emocional, o que pode ser ilustrado pela etimologia da palavra “companhia”, que do latim significa “com pão”. O pão se compartilha, come-se em companhia, acompanhado. Na oração de Jesus (“O Pai Nosso”), Jesus orou: “Dá-nos hoje, o nosso pão de cada dia” (Mateus 6.11). Veja que temos o pão representando todo o alimento que precisamos em nossa vida diária (“de cada dia”), mas ali encontramos também o comer junto, o partilhar: Jesus não diz “o meu pão”, mas sim “o nosso pão”. No século I, os cristãos reuniam-se com frequência para o “partir do pão” (Atos 2.46), sendo que também o faziam em lembrança do sacrifício de Jesus na cruz, como Jesus tinha instruído na Última Ceia: “Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o e deu aos seus discípulos dizendo: ‘Tomem e comam; isto é o meu corpo’” (Mateus 26.26; v. também João 6. 53-59; 1 Coríntios 11.23-27).
No Evangelho de João, capítulo 6, encontramos o registro de um evento extraordinário. Milhares de pessoas estavam reunidas para ouvir Jesus, à margem do mar da Galiléia, as quais testemunharam ou ouviram sobre os sinais miraculosos que Jesus realizara nos doentes. Ao ver essa multidão, Jesus pergunta a um de seus discípulos o que deveria ser feito para que todos fossem alimentados. Filipe, incrédulo, comenta que não tinham dinheiro suficiente para comprar pães para todas as pessoas. André leva até Jesus um rapaz com “cinco pães de cevada e dois peixinhos” (João 6.9), dizendo que não havia alimento suficiente. Jesus, no entanto, toma esses pães e peixinhos, dá graças e os reparte a todas as pessoas, sobrando ainda doze cestos com pedaços de pães.
Certamente, esse foi um evento espetacular e que deveria levar as pessoas a seguirem Jesus, ouvindo o seu ensino. Certo? Mas não foi o que ocorreu. Aquelas pessoas creram em Jesus, mas da forma como queriam. Desejavam um Messias que dava pão e que, com o seu poder, poderia livrá-los da dominação política romana. Disseram: “’Sem dúvida este é o Profeta que devia vir ao mundo’. Sabendo Jesus que pretendiam proclamá-lo rei à força, retirou-se novamente sozinho para o monte” (João 6.15). Embora tinham ouvido o ensino de Jesus, sobre eles disse Jesus: “A verdade é que vocês estão me procurando, não porque viram os sinais miraculosos, mas porque comeram os pães e ficaram satisfeitos” (João 6.26).
Se quisermos ter uma vida plena, não podemos nos orientar pelos nossos próprios instintos e por nossa visão limitada do mundo e da vida. É muito comum pensarmos que teremos plena satisfação quando os nossos desejos momentâneos ou nossas necessidades aparentes são supridas. Evidentemente que aquelas pessoas precisavam se alimentar. No etanto, o alimento físico, a libertação política, o aumento patrimonial, o sucesso profissional não são suficientes. Jesus ensina: “Não trabalhem pela comida que se estraga, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem lhes dará. Deus, o Pai, nele colocou o seu selo de aprovação” (João 6. 27).
Esse texto ainda nos mostra algo: o milagre que Jesus realizara simplesmente indicava que ele estava agindo em nome de Deus, e que as pessoas deveriam ouvi-lo. Não era o milagre por si; o milagre atestava que o ensino de Jesus vinha da parte de Deus. A “comida que permanece para a vida eterna” era o próprio Jesus: “Pois o pão de Deus é aquele que desceu do céu e dá vida ao mundo” (João 6.33).
Se temos que nos esforçar para algo, que seja para nos afastarmos de nossa incredulidade. Ocupamos o nosso dia-a-dia com diversas atividades, as quais trazem uma satisfação momentânea, não produzem um vida abundante estável. E não é nas muitas atividades que encontraremos a plenitude. É numa só: crer em Jesus. A obra que Deus requer de nós é esta: “crer naquele que Ele enviou” (João 6.29).
Assim como Deus havia dado gratuitamente um alimento aos judeus enquanto peregrinavam pelo deserto por 40 anos, que foi chamado de “maná” (Números 11.7-9), assim também Deus nos dá Jesus. Nele encontramos o alimento que nos sustenta, mas não apenas durante nossa perigrinação neste mundo, mas para a vida eterna! Se crermos nele, ele não apenas nos sustentará nesta vida, mas nos ressuscitará no último dia (João 6.39).
Jesus é o pão que desceu do céu (João 6.41) e alimenta nossa alma! As palavras de Jesus vivificam a nossa vida (João 6.63)!
Muitos ouviram essa mensagem de Jesus e decidiram não mais seguí-lo. Muitas pessoas fazem o mesmo hoje: querem o pão que Jesus dá, mas não querem o Jesus que dá o pão... Quanto a Pedro, o seu testemunho pode ser um exemplo para cada um de nós: “Jesus perguntou aos Doze [apóstolos]: ‘Vocês também não querem ir?’ Simão Pedro respondeu: ‘Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna. Nós cremos e sabemos que és o Santo de Deus” (João 6.67-69). Que seja essa a nossa atitude!