2. A criação
Logo no começo da Bíblia são apresentados dois importantes relatos sobre a origem de todas as coisas. O primeiro deles começa em Gn 1:1 e vai até 2:3; o segundo vai de Gn 2:4 até 2:25. Nestes breves relatos as Escrituras oferecem ao homem os fundamentos para a compreensão não apenas do restante da Bíblia mas também de sua própria existência.
“No princípio Deus criou os céus e a terra” (Gn 1:1). Neste versículo, o primeiro da Bíblia, são apresentadas importantes verdades sobre a realidade: existe um Criador (Deus) de todo o universo (os céus e a terra), que foi criado por Sua vontade (criou) e que passou a existir a partir de um certo momento no passado (no princípio). Apenas com essa frase, as Escrituras já eliminam diversas possibilidades sobre o que é a verdade:
Existe apenas um Deus (nega o politeísmo e o ateísmo);
Deus é diferente das coisas que criou (nega o panteísmo – a crença de que tudo é deus ou que as coisas são deuses – o sol, a lua, a natureza, o rio etc);
Deus possui vontade (nega a noção de que existe uma força/energia impessoal e sem vontade própria por trás de tudo);
O universo teve um início (nega a ideia de que o universo sempre existiu).
“E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom” (Gn 1:31). A repetição da expressão "e Deus viu que era bom" após cada ato criativo de Deus parece ser desnecessária, pois se poderia pensar: Mas Deus já não sabia antes que seria bom o que Ele iria fazer, pois Ele sabe de tudo? Com certeza isso faz sentido. Mas, como as Escrituras estão nos explicando verdades sobre Deus e Sua criação, é importante refletir um pouco mais. Para os propósitos deste artigo, ficaremos com apenas três conclusões sobre essa frase:
Deus teve prazer no que fez;
Tudo o que Deus criou foi criado perfeito (a palavra original para ‘bom’ também pode significar perfeito, correto, justo, agradável, amável, alegre etc);
Por ter sido originada em Deus, a natureza expressa algo do Criador.
Além disso, ao longo dos dois primeiros relatos (Gn 1 e 2), vemos descrições simples sobre como o universo foi criado e ordenado por Deus, dando ênfase em seus elementos mais relevantes para o homem: corpos celestes, o céu, a terra, as águas, as plantas, os animais e o próprio homem. Uma outra passagem importante diz o seguinte:
“Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Deus os abençoou, e lhes disse: ‘Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra’ ” (Gn 1:27-28).
Desta passagem outras informações bastante importantes são também apresentadas:
O ser humano foi criado à imagem e semelhança do Criador, possuindo capacidades e responsabilidades distintas em relação ao restante da criação;
O homem foi incumbido por Deus para transformar criativamente o planeta, governando-o de um modo que reflita o governo de Deus sobre tudo (pois é imagem e semelhança do Criador):
Em outras palavras, o trabalho faz parte do propósito do homem sobre a terra;
Por ter sido feito à imagem e semelhança de Deus, o ser humano possui valor superior ao restante da criação;
Ao homem foi dado subjugar apenas a terra e os animais e não os outros homens - subjugar aqui no sentido de ter sob governo e não no sentido pejorativo, de destruir ou prejudicar:
Veja também que Deus cria homem e mulher com valor igual e com as mesma atribuição de se multiplicar e trabalhar.
Já no segundo relato mencionado, temos uma descrição mais detalhada da criação do primeiro casal humano – Adão e Eva. O seguinte versículo apresenta outro fundamento da existência humana: “Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne” (Gn 2:24). Aqui, após as Escrituras apresentarem o Deus criador, a missão do homem de governador do planeta (a instituição do trabalho), chega-se à criação da família. Deste versículo retira-se a referência para o relacionamento de todos os casais humanos:
Homem se une à sua mulher (nega o homossexualidade e a zoofilia; nega a poligamia – à sua (uma) mulher):
Está implícita aqui a noção de aliança matrimonial, uma vez que o homem não se une à uma mulher, mas à sua mulher: deste modo, Deus ordenou algum tipo de acordo pre-casamento, de modo que um homem e uma mulher decidem, antes, se tornarem uma nova família (papel tradicionalmente exercido pelo noivado em nossa cultura);
Para uma nova família surgir deve-se sair de sua família original (deixar pai e mãe):
Para deixar pai e mãe, o ser humano deve ser maduro o suficiente para isso (emocional e fisicamente – excluindo com isso o casamento de crianças e a pedofilia);
A capacidade de trabalhar, de se manter materialmente (economicamente) também está implícita aqui;
A submissão/obediência dos filhos aos pais também é limitada, uma vez que a função de criação dos filhos termina quando saem de casa e os filhos não necessitam mais ser conduzidos, pois são agora adultos (não porque casaram, mas porque podem se casar);
Unir à sua mulher e serão uma só carne (o novo casal passa a viver como um só: união de vidas, de propósitos e a prática da relação sexual):
O relacionamento sexual foi criado para o contexto do casamento de um homem com uma mulher, excluindo a relação sexual com qualquer pessoa que não seja seu marido (ou mulher) - observe a ordem: deixar pais primeiro, unir-se depois.
Como conclusão, os relatos da criação de todas as coisas nos revelam um pouco do Criador, de Seu universo e do significado da própria existência humana:
1. existe um único Deus, que criou todas as coisas;
2. tudo foi criado perfeito (bom, agradável etc);
3. o homem foi criado para refletir a natureza do Criador (santidade) em seu relacionamento com a criação e com os demais homens;
4. o trabalho e a família fazem parte da ordem original que Deus estabeleceu em Seu universo.
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