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8. Abraão, Isaque e Jacó


O Senhor apareceu a Isaque e disse: ‘Não desça ao Egito; procure estabelecer-se na terra que eu lhe indicar. Permaneça nesta terra mais um pouco, e eu estarei com você e o abençoarei. Porque a você e a seus descendentes darei todas estas terras e confirmarei o juramento que fiz a seu pai Abraão. Tornarei seus descendentes tão numerosos como as estrelas do céu e lhes darei todas estas terras; e por meio da sua descendência todos os povos da terra serão abençoados, porque Abraão me obedeceu e guardou meus preceitos, meus mandamentos, meus decretos e minhas leis’ (Gn 26:2-5).

E assim, após certo tempo, Abraão teve alguns filhos, mas apenas o segundo que lhe nasceu – o único de sua mulher Sara –, recebeu a repetição da Promessa, conforme dada a seu pai: seria abençoado, receberia a terra prometida, teria descendência numerosa e, por meio dela, todos os povos seriam abençoados. Interessante perceber que Deus estava escolhendo uma única linhagem de Abraão, dentre todos os seus filhos, para que fosse a nação prometida a Abraão que viria dele (Gn 12:2) e que por meio dela, a bênção para todas as nações viesse.


Mas, ao se comparar as promessas dadas ao pai e ao filho, nota-se que nem tudo que Deus prometeu a Abraão foi também prometido a Isaque: o grande destaque é que não foi dito que ele (Isaque) se tornaria pai das nações, mas apenas foi transmitido a ele as promessas da herança da terra de Canaã, da bênção pessoal, da descendência numerosa e da vocação de ser o meio pelo qual Deus abençoaria todas as nações da terra.


Posteriormente, para Jacó, neto de Abraão, Deus repete as mesmas bênçãos ditas à Isaque:


Chegando a determinado lugar, parou para pernoitar, porque o sol já se havia posto. Tomando uma das pedras dali, usou-a como travesseiro e deitou-se. E teve um sonho no qual viu uma escada apoiada na terra; o seu topo alcançava os céus, e os anjos de Deus subiam e desciam por ela. Ao lado dele estava o Senhor, que lhe disse: ‘Eu sou o Senhor, o Deus de seu pai Abraão e o Deus de Isaque. Darei a você e a seus descendentes a terra na qual você está deitado. Seus descendentes serão como o pó da terra, e se espalharão para o Oeste e para o Leste, para o Norte e para o Sul. Todos os povos da terra serão abençoados por meio de você e da sua descendência. Estou com você e cuidarei de você, aonde quer que vá; e eu o trarei de volta a esta terra. Não o deixarei enquanto não fizer o que lhe prometi’ (Gn 28:11-15).


Isaque teve gêmeos – Esaú e Jacó. Embora ambos tenham sido filhos do mesmo pai e da mesma mãe (Rebeca), apenas um deles foi escolhido (jacó) para receber a Promessa dada a Abraão. Novamente, o Criador seleciona uma linhagem através da qual todos os outros povos, que não foram selecionados para ser o canal da bênção (incluindo os descendentes de Esaú) seriam abençoados por Deus. É importante notar também que Jacó, do mesmo modo que Isaque antes dele, recebeu as promessas da terra, da descendência numerosa, da proteção, da bênção pessoal e de ser o meio através do qual Deus abençoaria todas as nações da terra, mas não foi colocado como pai das nações – esta promessa foi dada apenas a Abraão.


Assim, após Deus indicar quais dos descendentes de Abraão seriam escolhidos para a transmissão de Sua Promessa, acontece a criação da nação prometida a Abraão, Isaque e Jacó: Israel. Após Jacó casar-se com as irmãs Lia e Raquel, ele se torna pai de doze filhos: Rúben, Simeão, Levi, Judá, Dã, Naftali, Gade, Aser, Issacar, Zebulom, José e Benjamim. Será a partir da descendência destes doze homens que a nação de Israel será formada, cumprindo a promessa da criação de uma grande nação oriunda de Abraão, Isaque e Jacó, o canal da bênção divina para todas as demais nações.


Por fim, resta saber como o nome Israel surgiu. Era costume na época e na região do Oriente Médio, chamar os povos pelo nome de seu patriarca: midianitas eram os filhos de Midiã, os assírios os filhos de Assur, edomitas filhos de Edom etc. Assim, se a nação começou com Jacó e seus doze filhos, seu povo deveria ser chamado de jacomitas – ou coisa parecida. Mas, em Gn 32, um evento interessante (ou estranho?) aconteceu:

E Jacó ficou sozinho. Então veio um homem que se pôs a lutar com ele até o amanhecer. Quando o homem viu que não poderia dominá-lo, tocou na articulação da coxa de Jacó, de forma que lhe deslocou a coxa, enquanto lutavam. Então o homem disse: ‘Deixe-me ir, pois o dia já desponta’. Mas Jacó lhe respondeu: ‘Não te deixarei ir, a não ser que me abençoes’. O homem lhe perguntou: ‘Qual é o seu nome?’ ‘Jacó’, respondeu ele. Então disse o homem: ‘Seu nome não será mais Jacó, mas sim Israel, porque você lutou com Deus e com homens e venceu’. Prosseguiu Jacó: ‘Peço-te que digas o teu nome’. Mas ele respondeu: ‘Por que pergunta o meu nome? ‘ E o abençoou ali. Jacó chamou àquele lugar Peniel, pois disse: ‘Vi a Deus face a face e, todavia, minha vida foi poupada’ (Gn 32:24-30).


De modo semelhante a Abrão, Deus novamente muda o nome de um homem a fim de expressar algo que Ele estava fazendo (ou iria fazer) através da vida daquele indivíduo. Antes de comentar sobre a luta entre Jacó e esse homem misterioso, é importante saber o significado dos nomes Jacó e israel. Jacó significa, ao pé da letra, ‘aquele que agarra o calcanhar’. Essa expressão pode também significar ‘usurpador’, aquele que toma algo de modo forçado e sem direito. Interessante que, quando ele sai da barriga de sua mãe, ele estava agarrando o pé de seu irmão gêmeo Esaú e foi por isso que recebeu esse nome. Não só isso, mas ele também usurpou seu irmão Esaú anos depois, ao enganar seu pai Isaque e receber a bênção que era para ser de seu irmão mais velho (Gn 27).


Já a palavra Israel tem significado mais difícil de precisar, podendo significar: ‘Deus prevalece’, ‘ele irá governar como Deus’ ou ainda outras possibilidades; mas estas duas são as mais populares. O que se percebe é a junção da ação de governo, reino ou domínio e o nome de Deus, indicando que aquela nação seria relacionada ao governo de Deus, ou Reino do Criador. À medida que mais revelações são dadas por Deus ao longo de seus profetas, esse significado vai se tornando mais e mais claro. Mas, para este artigo, basta compreender que esse evento, entre Jacó e este homem misterioso, muda o rumo da vida de Jacó: que deixa de ser o ‘usurpador’ e passa a ser o pai da nação que teria esse nome: Israel. Assim, o Criador estava indicando que, de algum modo, a sua bênção para todas as nações viria através da nação que ele relacionou com o Seu governo sobre todas as coisas, com o Seu Reino. Uma curiosidade é que Jacó, na verdade, passa a ter dois nomes, Jacó e Israel, sendo usados de modo intercambiável ao longo da bíblia.


Para terminar, resta ainda um breve comentário sobre o evento da mudança do nome de Jacó. A princípio, ele se encontra a sós com um certo homem. Mas, de algum modo não mencionado no texto, Jacó percebe que aquele homem possui algum tipo de autoridade, ou de característica especial em relação a Deus, pois ele percebe que aquele homem poderia abençoa-lo. A partir desta percepção, Jacó tenta novamente usurpar uma bênção, tentando forçar aquele homem a abençoa-lo. Porém, após uma noite inteira de tentativas frustradas de tomar à força sua bênção, Jacó é derrotado pelo homem, que danifica sua coxa e a luta se encerra. Aí então, após Jacó não mais ter forças, o homem misterioso finalmente abençoa Jacó, mas antes pedindo que ele diga o seu nome: Jacó (usurpador). Interessante que quando Jacó roubou a bênção de seu irmão, ele se disfarçou e enganou seu pai dizendo que ele era Esaú. Agora, ele teve que confessar que era Usurpador (Jacó), tentando outra vez roubar uma bênção. Foi apenas após reconhecer quem era (talvez ali admitindo que era um usurpador e, ao mesmo tempo, se arrependendo de ser assim) que a bênção prometida lhe foi dada e o nome Israel foi acrescentado à sua identidade.


O restante do livro de Gênesis mostra que, de fato, Jacó se tornou outra pessoa após aquele encontro, não mais tentando receber bênçãos de Deus utilizando meios errados. O final do relato deixa claro porque ele mudou seu caráter: aquele homem que lutou com Jacó era, de algum modo, o próprio Deus. Jacó percebeu então, no fim, que tentou usurpar o próprio Deus, mas que foi poupado pelo Criador e transformado por Ele para ser o patriarca que daria nome à nação da promessa abraâmica, por meio da qual Deus abençoaria todos os demais povos. Deus, muitas vezes, nos leva a situações de confronto, para que possamos perceber nossos erros e os abandonar, a fim de que possamos ser abençoados por Ele e, como consequência, sermos uma bênção para as demais pessoas!




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