9. Israel e a Aliança Mosaica
Após a nação de Israel nascer, Jacó e toda a sua família (filhos, netos etc) foram viver no Egito para fugir de uma grande fome que assolava a terra de Canaã, na qual peregrinavam desde a época de Abraão (até aquele momento a terra de Canaã, a terra prometida, ainda não havia sido dada aos israelitas). José, um dos filhos de Jacó, havia se tornado um grande governante no Egito e, por isso, teve poder para acolher o restante de seu pequeno povo e salva-los daquela calamidade. A Bíblia diz que o povo de Israel era composto por 70 pessoas até aquele momento. Mas, uma vez dentro do Egito, eles passaram a se multiplicar muito, conforme prometido pelo Criador a Abraão, Isaque e Jacó.
Com a população israelita crescendo, a atitude dos egípcios em relação a eles mudou: se no início eles foram bem acolhidos, 400 anos depois o Egito passou a oprimir duramente Israel, tornando-o seu escravo. Interessante que isso também foi profetizado por Deus para Abraão (Gn 15:13-17). Foi neste contexto que Moisés foi escolhido pelo Criador para cumprir outra parte da Promessa Abraâmica: tirar os israelitas do Egito a fim de poderem tomar posse da terra de Canaã: “Muito tempo depois, morreu o rei do Egito. Os israelitas gemiam e clamavam debaixo da escravidão; e o seu clamor subiu até Deus. Ouviu Deus o lamento deles e lembrou-se da aliança que fizera com Abraão, Isaque e Jacó. Deus olhou para os israelitas e viu qual era a situação deles” (Ex 2:23-25). Deus havia esquecido da promessa e agora se lembrou? Clique aqui para uma explicação sobre essa frase e outras semelhantes.
O episódio de Moisés, também conhecido como Êxodo, é uma das histórias mais conhecidas das Escrituras, tendo sido relatada em seriados de TV e filmes de cinema diversas vezes. Em poucas palavras, a princípio Deus pediu para o faraó do Egito que parasse de oprimir os israelitas e os deixasse sair de sua terra. O Faraó, não deu ouvidos a Deus, que passou a castigar o Egito com diversas pragas, demonstrando que o Deus de Israel era mais poderoso que os deuses egípcios (falsos deuses). Após 10 pragas, finalmente o Faraó libertaria os israelitas que, por meio da abertura miraculosa do Mar Vermelho, finalmente saem do Egito e do alcance do exército do Faraó.
Porém, antes de entrar na terra da Promessa, os israelitas tiveram que atravessar um deserto. Após alguns meses peregrinando, o povo, que havia sido testemunha de tudo o que Deus fizera para tira-los do Egito, não acreditou no Senhor e se rebelou diversas vezes. Quando finalmente os israelitas chegaram às margens de Canaã (a terra prometida), ninguém acreditou que Deus iria conseguir coloca-los na terra e expulsar as nações que ali ainda viviam – na verdade, apenas dois homens creram no Criador, Josué e Calebe.
Por causa da incredulidade dos israelitas e de sua constante indignação contra Deus durante esta jornada pelo deserto, Deus finalmente se pronunciou: “O Senhor respondeu: ‘Eu os perdoei, conforme você [Moisés] pediu. No entanto, juro pela glória do Senhor que enche toda a terra, que nenhum dos que viram a minha glória e os sinais miraculosos que realizei no Egito e no deserto e me puseram à prova e me desobedeceram dez vezes (...) chegará a ver a terra que prometi com juramento aos seus antepassados. (...) Mas, como o meu servo Calebe [e Josué] tem outro espírito e me segue com integridade, eu o farei entrar na terra que foi observar(...)’” (Nm 14:20-24). Assim, os israelitas ficaram 40 anos peregrinando pelo deserto, até que toda a geração que se rebelou tivesse falecido. Apenas Josué, Calebe e a geração seguinte de Israel entrariam na terra prometida. Embora o julgamento possar parecer duro à primeira vista, é interessante notar que foi neste período que Deus mais realizou milagres com Israel, demonstrando seu poder e sua graça para com eles, protegendo-os do sol e do frio norturno do deserto de modo sobrenatural (com uma nuvem de dia e uma coluna de fogo a noite), com alimento caindo do céu (o maná), com suas roupas miraculosamente não envelhecendo, com a provisão de água potável de modo sobrenatural a partir de uma rocha, com vitórias sobre inimigos dentre outras coisas. Com nenhum outro povo nem em nenhum outro momento da história Deus realizou tantos milagres como naquele período. Foi neste contexto que o povo rejeitou o Criador.
Ainda, foi nestes anos de peregrinação que Deus, através da atuação de Moisés, estabeleceu outro de seus pactos, desta vez com toda a nação de Israel. Este novo acordo, por ter sido feito no monte Sinai e mediado por Moisés, costuma ser chamado de Aliança Sinaítica ou Aliança Mosaica. Alguns chamam simplesmente de ‘a Lei’, uma vez que a Lei de Moisés foi dada por Deus no contexto desta aliança, como sendo uma legislação especial estabelecida pelo Criador para que a nação que Ele separou para trazer a bênção a todos os povos cumprisse. Fica claro que esta aliança (e sua Lei) foi feita apenas com Israel ao se atentar para o modo como o texto da Aliança Mosaica começa:
“Eu sou o Senhor, o teu Deus, que te tirou do Egito, da terra da escravidão” (Ex 20:2).
Esta Lei, cuja parte mais conhecida são os 10 mandamentos, seria então fundamental para que Deus cumprisse suas promessas ao povo de Israel. Interessante notar que a Promessa feita aos patriarcas (Abraão, Isaque e Jacó) foi incondicional: Deus não exigiu nada deles para dar a terra prometida, por exemplo. Mas, para que sua descendência usufruísse da terra dada pelo Criador, deveria viver em conformidade com a Aliança Mosaica – em outras palavras, esta outra aliança foi condicional, como ela mesma declara:
"Se vocês seguirem os meus decretos e obedecerem aos meus mandamentos(...) eu lhes mandarei chuva na estação certa, e a terra dará a sua colheita (...), e vocês comerão até ficarem satisfeitos e viverão em segurança na terra de vocês. (...) Farei desaparecer da terra os animais selvagens, e a espada [guerra] não passará pela terra de vocês” (Lv 26:3-6).
"Mas, se vocês não me ouvirem e não colocarem em prática todos esses mandamentos, (...) e forem infiéis à minha aliança, então assim os tratarei: eu lhes trarei pavor repentino, doenças e febre que tirarão a visão e lhes definharão a vida. Vocês semearão inutilmente, porque os seus inimigos comerão as suas sementes. O meu rosto estará contra vocês, e vocês serão derrotados pelos inimigos; os seus adversários os dominarão, (...) Desolarei a terra a ponto de ficarem perplexos os seus inimigos que vierem ocupá-la. Espalharei vocês entre as nações e desembainharei a espada contra vocês. Sua terra ficará desolada, e as suas cidades, em ruínas” (Lv 26:14-17; 32-33).
Assim, esta Lei mostra um padrão de tratamento de Deus para com os israelitas ao longo da história deste povo: quando Israel se aproxima de Deus e observa seus mandamentos, Deus envia bênçãos e os protege em sua terra; quando o povo se rebela Ele tira sua bênção e proteção, podendo até, como correção final, serem dominados por inimigos e expulsos da terra. O restante dos livros históricos da Bíblia (Antigo e Novo Testamento) confirmam este padrão: após períodos de rejeição da Lei de Deus, vemos sucessivos profetas entregando mensagens sobre as consequências da maldade de Israel – as próprias consequências da Aliança Mosaica (fomes, doenças, guerras e expulsão da terra). Mas, toda vez que os israelitas confessaram seus pecados a Deus e buscaram abandonar o mal, o Criador os abençoou e os restaurou, conforme prometeu que faria na Lei. Uma sugestão é ler os livros de Juízes, 1Reis e 2Reis, prestando atenção a este padrão cíclico: desobediência-castigo-arrependimento-bênção.
Deste modo, a Aliança Sinaítica acrescenta uma condição para que o povo de Israel usufruísse das bênçãos que Deus já havia dado a eles na Promessa Abraâmica: a submissão ao Criador, a fé/confiança e o amor para com Deus: “Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças. Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração” (Dt 6:4-6). Isto é muito importante pois, caso Deus prometesse bênçãos e as desse sem uma resposta adequada por parte dos israelitas, isso testificaria contra o caráter de Deus, que então poderia ser considerado um Ser injusto ou maligno, sendo parcial com Israel ou qualquer outra nação. A bênção, as promessas divinas, são recebidas mediante a resposta de fé e obediência do homem, como já mencionado nesta série na vida de Abel e de Abraão, principalmente.
Como conclusão, mesmo que a Lei tenha sido dada apenas a este povo, o princípio de amar a Deus e, como consequência, abandonar o mal e buscar o bem são universais e é o cerne da mensagem de Deus a todos os povos: há um só Deus e devemos viver em concordância com o Seu caráter, perseguindo a justiça, o amor e a misericórdia, com plena confiança Nele.